Parábola da Figueira Estéril
A Parábola da Figueira Estéril é uma parábola de Jesus registrada no Evangelho de Lucas (cap. 13:6-9). Vale dizer que dentre os quatro Evangelhos, apenas Lucas registrou essa parábola. Nesse texto, nós entenderemos a explicação, significado e lições dessa parábola.
O texto bíblico da Parábola da Figueira Estéril
E dizia esta parábola: Um certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, e foi procurar nela fruto, não o achando; e disse ao vinhateiro: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho. Corta-a; por que ocupa ainda a terra inutilmente? E, respondendo ele, disse-lhe: Senhor, deixa-a este ano, até que eu a escave e a esterque; e, se der fruto, ficará e, se não, depois a mandarás cortar (Lucas 13:6-9).
Contexto histórico da Parábola da Figueira Estéril
No capítulo 13 do Evangelho de Lucas, assim como no final do capítulo anterior (12), nitidamente percebemos uma ênfase no ensino sobre a necessidade da conversão. Também é possível entender que Jesus contou essa parábola durante Sua viagem final para Jerusalém (Lc 13:1).
O contexto histórico da narrativa de Jesus é o triste episódio envolvendo a ordem de Pilatos para matar alguns galileus. Pelo relato de Lucas, podemos entender que algumas pessoas naturais da Galileia peregrinaram até Jerusalém para oferecerem sacrifícios no Templo. De repente, por ordem de Pilatos, aquelas pessoas foram assassinadas.
O texto nos informa que, de alguma forma, o sangue daquelas pessoas foi misturado com o sangue de seus sacrifícios (Lc 13:1). Além do que foi registrado por Lucas, nada se sabe sobre o que de fato ocorreu.
Não sabemos qual foi a motivação para a ordem de Pilatos. Alguns sugerem que esses galileus faziam parte de um grupo nacionalista que se opunha de forma intensa ao governo romano, porém essa teoria é apenas uma mera especulação.
O importante sobre esse relato é que pelas palavra de Jesus podemos perceber que as pessoas que estavam ao redor do Senhor não interpretavam esse evento como um ato de crueldade por parte de Pilatos, ao contrário, eles achavam que aqueles galileus foram vitimas do castigo divino por conta de seus pecados (Lc 13:2,3).
Esse tipo de entendimento que relacionava o sofrimento com o pecado pessoal era comum entre os judeus. Um exemplo disso é a própria história de Jó, onde seus amigos associaram o sofrimento enfrentado por ele com o castigo divino por seus pecados (Jó 4:7; 8:20; 11:6; 22:6-10; cf. Jo 9:2).
Porém, Jesus reprovou completamente esse conceito ao afirmar que aqueles galileus mortos não eram, necessariamente, maiores pecadores que os demais galileus, e enfaticamente adverte seus ouvintes: “[…] mas a menos que se convertam, todos vocês igualmente perecerão” (Lc 13:3).
É possível também que na época os judeus associaram a origem das vítimas, a Galileia, como um fator contribuinte para tal punição. Devemos nos lembrar que existia preconceito entre os judeus de Jerusalém e os galileus.
Jesus então continuou seu discurso refutando claramente essa ideia. Ele fez isso citando um desastre na Torre de Silóe que matou dezoito pessoas. Essa torre ficava próxima ao Tanque de Silóe, e num determinado dia ela desabou e matou um grupo de pessoas.
O interessante é o detalhe da narrativa de Jesus. Se no outro evento foram os galileus que morreram, nesse desastre com a torre foram os moradores de Jerusalém. Mais uma vez Jesus enfatizou a sentença: “[…] mas a menos que se convertam, vocês semelhantemente perecerão” (Lc 13:5).
Resumo e explicação da Parábola da Figueira Estéril
Considerando o contexto apresentado acima, não é difícil entendermos a Parábola da Figueira Estéril. Jesus contou nessa parábola que um homem tinha uma figueira planta em sua vinha, e quando foi procurar fruto nessa figueira ele não encontrou.
Era comum entre os judeus que figueiras fossem plantadas em vinhas. Isso também significa que quando plantadas nas vinhas, as figueiras recebiam cuidados especiais.
Jesus também nos informa que o homem havia procurado por frutos na figueira durante três anos, e nada tinha encontrado. É importante entender que não se tratavam dos primeiros três anos de vida daquela figueira.
Vale lembrar de que na Lei de Moisés havia uma condição de que apenas a partir do quinto ano os frutos de uma árvore poderiam ser consumidos. Os frutos dos três primeiros anos deveriam ser descartados, e os frutos do quarto ano deveriam ser ofertados ao Senhor (Lv 19:23-25).
Logo, aquele homem estava procurando frutos na figueira no quinto, sexto e sétimo ano, mas não os encontrou. Então ele ordenou ao viticultor para que cortasse a árvore. Além disso, ele também fez uma observação interessante: “Por que deixá-la inutilizar a terra?” (Lc 13:7).
Aqui percebemos que aquela árvore não era apenas inútil, ela era pior do que isto. Além de não produzir fruto a figueira estéril causava prejuízo, pois ocupava o espaço no solo que poderia ser utilizado de uma forma melhor, e também suas raízes absorviam os nutrientes da terra prejudicando as demais plantas que estavam ao seu redor.
Então o homem que cuidava da vinha pediu para que o proprietário tivesse só mais um pouco de paciência, e esperasse mais um ano. Durante esse prazo ele iria adubá-la e se ela não produzisse fruto a figueira poderia ser cortada.
Lendo o diálogo entre o viticultor e o dono da vinha, podemos perceber que o viticultor demonstrava um interesse especial naquela figueira estéril. Ele não só pediu para que ela não fosse cortada, como também se comprometeu a fazer tudo o que tivesse ao seu alcance para que a árvore pudesse produzir.
A parábola termina é nada é dito se a figueira finalmente produziu fruto ou se foi cortada. Claro que isso foi intencional, ou seja, com isso, Jesus propôs que cada um analise sua própria vida, se somos como uma figueira estéril ou se somos como árvores frutíferas.
Qual o significado da Parábola da Figueira Estéril?
É possível que exista um significado simbólico na figura da figueira plantada na vinha. Tanto a videira quanto a figueira, tinha um papel importante para os judeus, de modo que no Antigo Testamento várias vezes a prosperidade de Israel ou sua reprovação foi indicada com referências à essas árvores (1Rs 4:25; Mq 4:4; Jr 8:13; Os 9:10; Hc 3:17; cf. Is 5:1-7).
Assim, podemos entender que a figueira plantada em uma vinha é uma figura da posição privilegiada que Israel desfrutou na antiga dispensação. No entanto, esse privilégio também trouxe responsabilidade, e sabemos que Israel, como nação, não respondeu a esse privilégio e não se voltou para o Senhor (Lc 20:16; 21:20-24).
Portanto, a falta de figos na figueira simbolizava a reprovação de Deus e seu juízo iminente: se não produzisse fruto a figueira seria cortada. O significado central dessa parábola não se resume apenas a Israel, mas a todos que ouvem e leem essas palavras de Jesus.
Essa parábola nos mostra a verdade de que se um simples homem se importou com a figueira estéril de tal modo que se comprometeu a trabalhar nela por mais uma ano, mais ainda Deus se importa com o homem e se mostra magnânimo e paciente. Porém, Sua paciência tem um tempo limite.
Aqui aprendemos que Deus é misericordioso, mas chegará o tempo em que o dia do juízo virá. Hoje os homens estão vivendo num tempo de oportunidade, mas chegará o momento em que a oportunidade de salvação será tirada, a figueira estéril será cortada e se perderá para sempre.
Assim, o ensino principal da parábola da figueira estéril é que a paciência de Deus resulta em julgamento ao pecador impenitente. Esse é o mesmo ensino expresso na Epístola aos Hebreus, quando seu autor escreveu que se toda transgressão e desobediência recebeu justa retribuição, “como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação” (Hb 2:2,3).
Quando meditamos na Parábola da Figueira Estéril podemos facilmente nos lembrar das palavras do profeta Isaías:
Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno, os seus pensamentos e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar (Is 55:6,7).
Quando o tempo permitido pelo Senhor para que o homem se arrependa tiver se esgotado, então ninguém poderá escapar do juízo de Deus. Essa parábola, sem dúvida, enfatiza a responsabilidade humana.
Deus é soberano e a Bíblia ensina claramente a doutrina da justificação pela graça mediante a fé, mas isso não anula a responsabilidade do homem. O homem, depravado e corrompido pelo pecado, não poderá culpar Deus pela sua negligência. No dia do juízo ninguém poderá reclamar da paciência e da misericórdia do Senhor, nem mesmo questionar Sua justiça.
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