terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Ovelha Perdida

 

A Parábola da Ovelha Perdida no Evangelho de Lucas

No Evangelho de Lucas, o contexto nos mostra que Jesus foi cercado por publicanos e pecadores que havia se reunido para ouvi-lo. Os publicanos eram judeus que trabalhavam para o Império Romano como coletores de impostos.
O povo da época os considerava traidores que extorquiam os judeus. Aqui, os publicanos são mencionados juntamente com os “pecadores”, que eram todas as demais pessoas marginalizadas moralmente e de má reputação, que não viviam conforme as normas estabelecidas pelos rabinos, e que acabavam excluídos da sociedade da época pelos religiosos. O povo judeu era aconselhado a não ter qualquer contato com essas pessoas, e muito menos comer com elas.
Entretanto, Jesus frequentemente estava acompanhado dessas pessoas, comia com elas (Lc 5:27-29) e, inclusive, escolheu um coletor de impostos para ser um dos doze apóstolos. Tais coisas fazia com que os fariseus e os escribas se escandalizassem e murmurassem.
Eles não conseguiam enxergar o verdadeiro propósito pela qual o Filho de Deus veio ao mundo, a saber, buscar e salvar o perdido. Então, com o intuito de expor o comportamento reprovável e injusto dos religiosos, e ao mesmo tempo mais uma vez lhes oferecer a oportunidade de converter-se de tal perversidade, Jesus contou três parábolas: a Parábola da Ovelha Perdida, a Parábola da Dracma Perdida e a Parábola do Filho Pródigo.
Presenciar pastores apascentando ovelhas era algo corriqueiro e familiar naquela época. Então, uma prática extremamente comum, mais uma vez é utilizada por Jesus para transmitir os seus ensinos. Além dos ouvintes estarem habituados com a cena descrita por Jesus, vale também ressaltar que eles, principalmente os fariseus e os escribas, conheciam muito bem as passagens do Antigo Testamento que mostram Deus como o pastor de suas ovelhas (Sl 23:1; Is 40:11; Ez 34:15,16).
Jesus então pergunta: “Qual de vocês, se tiver cem ovelhas e tiver perdido uma delas, não vai em busca da ovelha perdida?” O que Jesus está ensinando nessa pergunta é que todo pastor bom e zeloso, buscará a ovelha perdida, mesmo que isso implique em deixar as outras 99 enquanto busca uma única que está desgarrada.
Nos versículos 5 e 6, Jesus mostra a alegria do pastor ao encontrar sua ovelha perdida. Ele reúne seus amigos e vizinhos para juntos festejarem. Esses dois versículos introduzem a lição principal da parábola presente no versículo 7, que demonstra a alegria que há no céu quando um pecador, ora perdido, é encontrado. Essa alegria é resultante da busca e do cuidado providencial do Bom Pastor. Sobre isso, no Evangelho de João Jesus nos mostra o tamanho desse cuidado:
Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.
(João 10:11)
Também vale citar que, no versículo 7, existe um difícil debate entre os estudiosos (tal debate não se estende ao registro dessa parábola do Evangelho de Mateus). O tema desse debate é fundamentado na seguinte pergunta: Quem são as noventa e nove pessoas justas citadas por Jesus? Existem diferentes interpretações sobre esse tema, sendo que, a maioria delas, considero nem ao menos significativas para citarmos aqui. Logo, dentre todas, podemos selecionar duas que se apresentam com maior coerência:
  1. A primeira considera que esses “justos” são verdadeiramente “pessoas justas”, e que há alegria no céu por aqueles que fazem a vontade de Deus e procuram seguir seus mandamentos, mas, quando um pecador se arrepende, então a alegria é ainda maior, pois um filho perdido foi encontrado.
  2. A segunda interpretação considera que esses “justos” são “aparentemente justos”, ou seja, são pessoas justas a seus próprios olhos, que, logo, pensam não precisarem de arrependimento, afinal, se alguém se julga “justo”, este, não deve ter nada do que se arrepender.
Embora as duas interpretações sejam boas e demonstram verdades confirmadas pelas Escrituras, penso que a segunda interpretação é a mais correta no caso dessa parábola registrada no Evangelho de Lucas. Para que fique mais claro esse pensamento, basta considerarmos o contexto da própria parábola, onde Jesus estava junto dos “miseráveis pecadores” que o cercavam para ouvir suas palavras, enquanto os religiosos, que se orgulhavam de “cumprir” a Lei, portanto, se consideravam justos, murmuravam diante da atitude de Jesus. Diante desse aspecto, parece claro que Jesus está falando dos fariseus e dos escribas, juntamente com os que os seguem. Assim, os noventa e nove justos representam os murmuradores, que confiavam em suas próprias obras. Essa mesma condição também foi enfatizada por Jesus em outras ocasiões no mesmo Evangelho de Lucas:
E os escribas deles, e os fariseus, murmuravam contra os seus discípulos, dizendo: Por que comeis e bebeis com publicanos e pecadores?
E Jesus, respondendo, disse-lhes: Não necessitam de médico os que estão sãos, mas, sim, os que estão enfermos;
Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores, ao arrependimento.
(Lucas 5:30-32)
E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros.
(Lucas 18:9)
De qualquer forma, seja qual for a interpretação adotada, o importante é entender que a ênfase, tanto em Mateus quanto em Lucas, está posta na ovelha que se perdeu, foi buscada, encontrada e celebrada. Em outras palavras, a lição de Jesus demonstra que se um pastor humano deixa as noventa e nove ovelhas para buscar uma única que se perdeu, o que se pode esperar então do Bom Pastor, que dá sua vida pelas ovelhas? Ele certamente buscará e resgatará o pecador perdido.

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