quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

 Socorro em meio à crise


Socorro em meio à crise

Texto base: Juízes 2.1-23

Leitura diária

D – Sl 33.1-22 – A vontade do Senhor dura para sempre;
S – Jó 19.1-29 – O Redentor vive;
T – Rm 11.33-36 – A sabedoria dos desígnios de Deus;
Q – Dn 4.1-37 – O plano de Deus está sobre todos;
Q – Is 45.8-18 – Senhor Deus é o criador;
S – Sl 40.1-17 – Deus ouve o nosso clamor;
S – Ef 1.1-14 – O plano redentor de Deus

Introdução
A humanidade vive entre crises. De tempos em tempos, alguma crise afeta as nações. Guerras, doenças, falência financeira, etc. Nos últimos dias, por exemplo, vivemos a grande crise econômica que afetou, diretamente, a economia mundial.

As crises trazem, sempre, instabilidade e incerteza. Diante delas, os homens são induzidos a certas decisões que nem sempre são acertadas, porque são tomadas às pressas ou sob nenhuma orientação segura. Além do mais, quando o pecado acende mais gravemente entre os homens, as escolhas são sempre carregadas de impiedade.

O livro de Juízes revela, com clareza, uma época de grande crise em Israel e de crescimento da impiedade. Josué havia morrido e seus sucessores não conheciam o Senhor (Jz 2.10). O crescimento do pecado e da impiedade, portanto, foi inevitável. O povo estava sem direção e quando não há conselho seguro o povo cai. Israel caiu.

Nesta lição, veremos a ação da providência de Deus para livrar Israel da impiedade e do pecado e garantir-lhe a sobrevivência em meio à crise.

I. Sem Deus, os homens perecem
Quando não há conhecimento de Deus, os povos caem. As Escrituras, em muitos lugares, afirmam claramente que na ausência de conhecimento sempre há o aumento do pecado e da impiedade. Esta verdade tem sido demonstrada ao longo da história da humanidade. Quando os homens se esquecem da sabedoria de Deus, eles perecem, pois se entregam aos seus próprios entendimentos e prazeres, atraindo sobre si mesmos a ira de Deus.

O conhecimento de Deus é o fundamento da vida humana. Sobre isso assevera João Calvino: “Em primeiro lugar, ninguém pode olhar para si mesmo sem que, imediatamente, torne seus pensamentos à contemplação de Deus em quem ‘se vive e se move’ (At 17.28)… o conhecimento de nós mesmos não somente nos prende a buscar a Deus, mas também, como se fôssemos conduzidos pela mão a encontrá-lo”.[1]

Para crescer em uma vida reta é necessário conhecer a Deus mediante a sua Palavra revelada, pois a falta do entendimento de Deus e de sua vontade dá liberdade ao coração pecaminoso do homem a agir segundo os seus interesses. Oséias diagnosticou o problema de Israel e sua corrupção apontando para a ignorância da nação: “Ouvi a palavra do Senhor, vós, filhos de Israel, porque o Senhor tem uma contenda com os habitantes da terra, porque nela não há verdade, nem amor, nem conhecimento de Deus… O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos (Os 4.1,6).

Semelhantemente, Malaquias condenou a instrução maligna dada pelos sacerdotes, quando eles, como mestres de Israel é que deveriam promover o puro e límpido conhecimento de Deus: “Porque os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução, porque ele é mensageiro do Senhor dos Exércitos. Mas vós vos tendes desviado do caminho e, por vossa instrução, tendes feito tropeçar a muitos; violastes a aliança de Levi, diz o Senhor dos Exércitos” (Ml 2.7,8).

Juízes 2 descreve a situação degradante e perniciosa em que viviam os israelitas. O principal ataque à vida espiritual estava no culto a Deus. De fato, sempre que o pecado cresce numa localidade, o primeiro alvo é o culto a Deus. O culto é a expressão da compreensão que o povo tem do seu deus. É possível, então, conhecer um deus a partir do culto que os seus seguidores lhe oferecem. Esse ponto se torna ainda mais perceptível no período dos reis de Israel, quando os reis adoravam ao Senhor e ao mesmo tempo a outros deuses. Essa anomalia teve início com Salomão (1Rs 11.1-8).

Adorar a Deus e a outros deuses é pior do que a adoração somente a outros deuses. O que Salomão fez foi tentar uma aliança entre o Senhor e outros deuses. Tal como ele encontramos o rei Jeú, pois enquanto obedeceu a palavra de Deus para destruir todos os descendentes de Acabe e a Jezabel (2Rs 9.30-10.14), ele também não tinha o coração totalmente devotado ao Senhor, porque se prostrava perante ídolos (2Rs 10.28-31). Desse erro ninguém está isento, portanto devemos manter o nosso coração firmado no Senhor: “Não há entre os deuses semelhante a ti, Senhor; e nada existe que se compare às tuas obras” (Sl 86.8). Assim asseveraram os profetas: “Ninguém há semelhante a ti, ó Senhor; tu és grande, e grande é o poder do teu nome” (Jr 10.6); “Eu sou o Senhor, e não há outro; além de mim não há Deus; eu te cingirei, ainda que não me conheces” (Is 45.5); “Sabereis que estou no meio de Israel e que eu sou o Senhor, vosso Deus, e não há outro; e o meu povo jamais será envergonhado” (Jl 2.27).

O Deus de Israel tinha um culto específico. Ele havia prescrito em detalhes os elementos que deveriam constar em todos os atos do culto. Israel, então, renegou esses princípios e abandonou o seu Deus. Passou a adorar outros deuses, os baalins (Jz 2.11). Os israelitas estavam imersos em conceitos religiosos pagãos e, por esta razão, permitiram a entrada de outros povos e seus respectivos deuses no meio deles (Jz 3).

O apóstolo Paulo, na sua carta aos romanos, afirmou que o desvirtuamento do culto gera o aumento de pecado e impiedade (Rm 1.28-32): “E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes” (Rm 1.28). Este é o retrato daqueles que negam o Senhor e andam após outros deuses.

Josué havia dito que os homens seriam infiéis e trariam para si o juízo de Deus (Js 24.16-20), porque eles eram incapazes de servir a Deus e prestar-lhe culto com a devoção e obediência devida.

Entretanto, Deus não permitiu que o seu povo sucumbisse eternamente e providenciou juízes ou libertadores para restaurá-lo em meio à crise.

II. O Senhor levanta homens como instrumentos de salvação
Em cada época da história, Deus levanta seus servos para lutar em prol do seu reino. Não podemos nos esquecer de que a reforma, no sentido de retorno à Palavra de Deus, com arrependimento e fé, sempre existiu na vida da igreja deste a origem do homem. Podemos pensar que a primeira reforma aconteceu no Éden, quando Deus usou sua Palavra para determinar os rumos de Adão e Eva após a queda. Jó, Noé, Abraão e outros patriarcas foram instrumentos de Deus para imprimir na mente da sociedade o verdadeiro sentido da fé no verdadeiro e único Deus. Vemos em 2 Crônicas 34-35 a reforma empreendida por Josias. Era uma situação em que Israel estava cercado por nações que adoravam os deuses dos gentios, deuses da natureza e a idolatria estava entrando em Israel. Em Neemias 8-10, vemos esse servo do Senhor sendo levantado para restaurar o templo e conduzir o povo novamente à adoração. E essa adoração foi feita através do retorno às Escrituras: “Leram no

Livro, na lei de Deus, claramente, dando explicações, de maneira que entendessem o que se lia… tinham entendido as palavras que lhes foram explicadas… Dia após dia leu Esdras no livro da lei de Deus, desde o primeiro até o último…” (Ne 8.8,12,18).

Vemos reformas também no Novo Testamento. Se lermos Atos 2, perceberemos que após o Pentecoste, a igreja do Senhor crescia e: “… perseverava na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações” (At 2.42). A igreja adquiriu um novo estilo de vida, ela foi reformada. A pregação do Novo Testamento é sempre de renovação espiritual, de reforma de mente e de sentimento para a verdadeira adoração ao Senhor (Jo 4.24; Ap 2-3).

Em Juízes, Deus levantou vários servos seus, em meio a diferentes crises de apostasia e idolatria para restaurar a verdadeira adoração e o culto ao Senhor. Veja, no quadro abaixo, a relação de algumas dessas pessoas:

Referência Conquistador Duração
Libertador/Juiz
3.1-11
3.12-31

4-5

6, 7 – 8.32

8.33 – 9 – 10.5

10.6-12

13.1-16.31

Cusã-Risataim
Rei de Mesopotânia

Rei de Moabe e Filisteus

Jabim, rei de Canaã

Midianitas Guerra Civil

Anonitas

Filisteus

8 anos
18 anos

20 anos

7 anos

18 anos

40 anos

Otniel
Eúde e Sangar

Débora e Baraque

Gideão

Abimeleque, Tola e Jair

Jeftá, Ibzá, Elom e Abdom

Sansão

Deus nunca deixou o povo sem direção. Ao longo da história, ele levantou homens sérios, capacitados para a reforma da adoração. Em nossa época não é diferente, pois em meio às pregações corrompidas de misticismo e superstição, Deus continua a levantar homens leais ao evangelho que pregam a Cristo. Este era o desafio que Paulo enfrentava, mas ele não abria mão do conteúdo de sua pregação. Ainda que ele não se importasse com a forma, ele não negociava o conteúdo: “Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei” (Fp 1.18).

Os reformadores enfatizaram a singularidade de Cristo para a salvação sob o lema Solus Cristus – somente Cristo – fazendo eco ao apóstolo: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Co 2.2).

III. O Senhor é quem estabelece os métodos para chegar à vitória
O apóstolo Paulo disse: “Deus escolheu as cousas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus” (1Co 1.28,29). De fato, pode-se ver uma maneira pouco convencional de Deus agir em algumas situações de guerra.

O livro de Juízes, por exemplo, apresenta algumas dessas maneiras:

Uma aguilhada de bois (3.31) – era um instrumento pontiagudo usado para “tocar” a boiada. Era um instrumento perfurante, muito perigoso no manuseio, pois poderia se tornar uma arma fatal.
Uma estada de tenda (4.21) – do mesmo modo que a aguilhada era também um instrumento perfurante, feito de madeira e, normalmente, liso e pontiagudo.
Tochas (7.20) – utilizadas para incendiar os exércitos inimigos e seus objetos.
Uma pedra de moinho (9.53) – utilizada por uma mulher para matar Abimeleque.
Uma queixada de jumento (15.15) – utilizada por Sansão para ferir mil homens.
Deus tem os seus gloriosos métodos, porque ele é Senhor da história. Às vezes, queremos acrescentar aos métodos do Senhor nossos próprios e pecamos contra ele, pois, via de regra, sugerimos métodos carnais e que não trarão o resultado esperado. Como Deus é quem sabe todas as coisas, a ele devemos deixar que faça tudo conforme o seu agrado.

Qual é, portanto, o objetivo de Deus ao utilizar métodos tão pouco convencionais? Paulo nos diz que o principal objetivo é desafiar a “sabedoria dos sábios e entendidos”. De modo, de certa forma, irônico, Paulo diz: “Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século?”, e prescreve: “Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos instruídos” (1Co 1.19,20). Calvino comenta essa passagem da seguinte maneira: “Além do mais, visto que a maneira usual de Deus vingar-se é golpeando de cegueira os que se acham presos a seu próprio entendimento, e são excessivamente sábios a seus próprios olhos, não surpreende que homens carnais se levantem contra Deus, na tentativa de fazer sua verdade eterna dar lugar às suas tolas presunções, tornando-se insensatos e fúteis em seus raciocínios”.

Mais à frente, Calvino considera ridícula toda presunção que se declare autônoma ao conhecimento de Cristo: “Seguese que, qualquer conhecimento que uma pessoa venha a possuir, sem a iluminação do Espírito Santo, está incluído na sabedoria deste mundo… Pois qualquer conhecimento ou entendimento que uma pessoa possua não tem o menor valor se não repousar na verdadeira sabedoria; e não é de mais valor para apreender o ensino do que os olhos de um cego para distinguir as cores. Deve-se prestar cuidadosa atenção a ambas as questões, ou seja: (1) que o conhecimento de todas as ciências não passa de fumaça quando separada da ciência celestial de Cristo; e (2) que o homem, com toda a sua astúcia, é tão estúpido para entender por si mesmo os mistérios de Deus, como um asno é incapaz de entender a harmonia musical”.

O que as Escrituras nos ensinam é que o crente não precisa temer os avanços da ciência, as opiniões da Filosofia, as leituras inclusivistas de nossa época, os pressupostos dos darwinistas, etc. Nada disso pode frustrar a sabedoria divina que é quantitativa e qualitativamente muito além da inteligência humana. O homem pensa, soberba- mente, que pode desafiar a sabedoria divina questionando os pressupostos bíblicos. Porém, Paulo diz: “Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (1Co 1.25). Além disso: “Não há sabedoria, nem inteligência, nem mesmo conselho contra o Senhor” (Pv 21.30). não pode haver pecado ou perversidade que dure muito tempo: “O homem não se estabelece pela perversidade, mas a raiz dos justos não será removida” (Pv 12.3); “Porque o que vende não tornará a possuir aquilo que vendeu, por mais que viva; porque a profecia contra a multidão não voltará atrás; ninguém fortalece a sua vida com a sua própria iniqüidade” (Ez 7.13).

Portanto, é tolice humana tentar compreender os métodos divinos. Eles não se encaixam no nosso pensamento e em nossos caminhos: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos” (Is 55.8,9). Quem pode entender as coisas de Deus (Is 40.12-18)?

Assim, não é preciso temer. Deus estará presente no meio da tribulação, agindo com mão poderosa, afinal: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações” (Sl 46.1).

Conclusão
Israel viveu um período de escuridão devido à ignorância da Palavra de Deus. A geração nova que se levantou após a geração de Josué não conhecia ao Senhor, porque não foi instruída na lei do Senhor, para temê-lo, amá-lo e obedecê-lo. A consequência imediata a essa falta de entendimento é corrupção, pecado e idolatria. Lamentavelmente, o preço da ignorância é muito alto e, por esse motivo, o povo experimentou o cativeiro e a opressão daqueles povos que eles mesmos deixaram vivendo junto de si. Enquanto eles não cumpriram com a ordenança de Deus para expulsá-los, eles se voltaram contra Israel e os provaram.

Porém, Deus é cheio de graça e bondade e não permitiu que o povo vivesse para sempre nessa situação. Ele escolheu homens e mulheres para lutarem bravamente, na força do próprio Senhor, e libertou várias vezes o seu povo mostrando que estava sempre próximo, ouvindo os seus clamores e atentando à sua deprimente condição.

Deus ouve quando o seu povo clama e atende, trazendo libertação e salvação. Ainda que o Senhor se ire contra o seu povo, ele brevemente manifesta a sua misericórdia.

O verdadeiro servo de Deus sabe que o seu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra. Ele não dorme nem cochila ao cuidar de seu povo (Sl 121), pois aos seus amados ele concede bênçãos mesmo enquanto eles dormem (Sl 127.2). Por isso, é inútil tentarmos agir por conta própria. É necessário esperar na única esperança (Sl 40.1).

Aplicação
Em quem você tem colocado sua esperança no momento de crise? Quem você tem buscado para solucionar os seus problemas? Você realmente crê em Cristo que tudo pode? (Fp 4.13).

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